Gestação de alto risco
A gestação é um fenômeno fisiológico e, por isso mesmo, sua evolução se dá na maior parte dos casos sem intercorrências. Apesar desse fato, há uma pequena parcela de gestantes que, por terem características específicas, ou por sofrerem algum agravo, apresenta maiores probabilidades de evolução desfavorável, tanto para o feto como para a mãe. Essa parcela constitui o grupo chamado de "gestantes de alto risco".
Lidar no dia a dia com gestações de alto risco nos condiciona a manejar esse binômio materno fetal complexo. Se a mulher tem insuficiência renal crônica e engravida fará hemodiálise durante o ciclo da gravidez e a adequada monitorização será realizada. Se ela tem um transplante hepático e engravida, também acompanharemos com objetivo de um parto saudável e seguro. E assim, podemos listar inúmeras doenças que uma mulher pode ter e que serão desafios para um obstetra.
Há que que listar ainda as complicações específicas da gestação que podem agregar risco e que merecem adequado diagnóstico e manejo. Nenhuma gestante tem risco zero para uma hipertensão específica da gestação, um diabetes gestacional, uma placenta que não funciona bem ou está implantada em local inadequado. E vamos a mais desafios, uns mais fáceis, outros mais desgastantes mas sempre com a meta de obter o melhor desfecho possível.
A pandemia nos trouxe um aprendizado extra, um manejo mais frequente de gestantes dentro do ambiente de terapia intensiva, dependente de ventiladores mecânicos para respirar, aparelhos de hemodiálise para os rins seguirem em funcionamento e de medicamentos para manter pressão, controlar infecções. Trouxe ainda os partos prematuros indicados por gravidade materna e os emocionantes partos vaginais dentro dessas unidades com gestantes entubadas e traqueostomizadas.
De forma sincera, ser obstetra de alto risco na pandemia tem sido uma montanha russa de sentimentos, aprendizados, ganhos e perdas mas sem em nenhum momento deixar de ter a esperança de fazer a todo o tempo o melhor trabalho.